2 de março de 2004

PÂNICO NO BOSQUE

O leopardo estava desolado, não tinha mais palavras. O canguru murchou as orelhas e carregou os filhotes porque não iria aguentar. Azebra perdera o controle emocional e não conseguia parar em pé. Os canários estavam calados.

A girafa tinha morrido, atacada por um mal súbito que não deixou-a viver mais que alguns minutos de enfermidade. Antes de ir, sofreu muito, sentia dores na barriga, gritava, chorava. Quem passava pelo bosque se comovia com a dor da girafa.

Dizem, que foi uma erva que ela comeu enquanto voltava do riacho. O rinoceronte disse que tentou alertá-la, dizendo que aquelas eram ervas malvadas e que a girafa não deveria comer o que não conhecia, mas ela insistiu e zombou dele depois de mastigar as verdes folhas suculentas.

Depois, enquanto os outros descansavam ao pé da goiabeira, a girafa começou a reclamar de dores na barriga. O rinoceronte, prevendo o mal, mandou que chamassem o macaco imediatamente. Mas ele estava muitos galhos longe dali e não pode chegar a tempo de ressucitar a pobre vizinha.

Quando chegou a noite, a coruja foi dar a notícia aos que ainda não sabiam: a girafa havia falecido. Ela era muito conhecida no bosque, tinha muitos amigos mas não tinha família. A tartaruga anciã, que tudo sabia, disse que ela fora deixada ali pelos humanos, assim como a maioria dos outros animais daquele lugar. No começo era tímida e não fazia nada além de se alimentar e beber água no riacho, depois ficou amiga dos elefantes, depois dos rinocerontes, zebras e leopardos, até ser aceita como membro da guarda do bosque. Quem era da guarda deveria estar em permanente vigília, sempre atento aos movimentos de quem saía ou chegava. E com a altura que ela possuía, tinha a melhor visão e se os lobos farejassem algo, ela seria a primeira a avistar o que se aproximava.

A girafa foi-se sem que os outros pudessem dizer o quanto ela era importante pra todos.

Quando a coruja voltou, todos os habitantes do bosque estavam presentes, menos o leão. Ele, como ditador vitalício, não comparecia a nenhum evento, nem mesmo velórios. Mantinha sempre a postura firme e imparcial, dizendo que o destino a selva é quem faz.

Os elefantes, que não moravam mais no bosque por causa de encrencas com os rinocerontes, prestaram-se a carregar o corpo com cipós e um galho grosso, afinal, os urubus iriam aparecer a qualquer momento para se aproveitar da desgraça alheia. Os rinocerontes mais novos queriam brigar, mas os mais experientes acalmaram os ânimos, visto que o luto instalado era motivo de relevância.

O bosque todo estava reunido em volta da girafa, as zebras foram retiradas do tumulto porque estava prestes a desmaiar, o macaco lacrimejava e choramingava sentado numa pedra e a coruja parecia imóvel.

Quando os elefantes foram puxar o corpo da girafa, surpresa: Ela levantou e espreguiçou-se demoradamente enquanto os outros olhavam atônitos a cena.

Ela tinha comido folhas de cânhamo, entrara em sono profundo e nem mesmo as massagens cardiacas do macaco haviam a acordado. Por causa das dores de barriga e do sono repentino, o macaco dera a girafa por morta.

No final, entraram festejando o alvorecer com cantos alegres dos canários e frutas frescas de graça, por conta do macaco.

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