9 de março de 2004



"Eu sei disso. Mas o negócio é que eu amo os trens de carga, adoro o som de seus nomes: Missouri Pacific, Great Northern, Rock Island Line. Por Deus, Major, se eu pudesse te contar tudo que aconteceu comigo vindo de carona até aqui. [...]"

Então, finalmente aconteceu. O telefone tocou, e era Carlo Marx. Deu o endereço de seu apartamento subterrâneo. Eu perguntei: "O que você está fazendo em Denver? Quer dizer, o que você está fazendo? O que está acontecendo?"

"Oh, espera só até eu te contar."

Voei ao seu encontro. Ele estava trabalhando à noite nas lojas de departamentos May; o louco do Ray Rawlins tinha ligado para lá, de um bar qualquer, fazendo os porteiros correrem atrás dele com a notícia de que alguém havia morrido. Carlo imediatamente pensou que quem tinha morrido era eu. Aí, Rawlins disse pelo telefone: "Sal tá em Denver", ditando meu endereço e o número do meu telefone.

"E Dean, onde é que tá?"

"Deixa eu te contar: Dean tá em Denver." E ele me disse que Dean estava transando com duas garotas ao mesmo tempo, elas eram Marylou, sua primeira esposa, que o aguardava num quarto de hotel, e Camille, que ficava esperando por ele num outro quarto de hotel. "Entre uma e outra ele corre ao meu encontro para tratarmos de negócios inacabados."

"E qual é o programa?"
, perguntei. A vida de Dean era repleta de programas.

"O programa é o seguinte: eu saí do trabalho faz meia hora. Neste exato instante Dean tá comendo Marylou no hotel, o que me dá tempo pra me vestir e me arrumar. Ele foge pontualmente de Marylou e corre até Camille - claro que nenhuma das duas nem sequer imagina o que está acontecendo - daí, dá uma trepada rápida com ela, o que me dá tempo pra chegar à uma e meia no nosso encontro. Então ele sai comigo - não sem antes ter que implorar para Camille, que já tá começando a me odiar - e a gente vem pra cá pra conversar até as seis horas da manhã. Geralmente ficamos até mais tarde, mas a coisa tá se tornando terrivelmente complicada, e ele está prensado pelo tempo. Às seis horas da manhã, retorna aos braços de Marylou - e amanhã ele vai passar o dia inteiro correndo em função dos papéis necessários pro divórcio deles. É só o que Marylou quer, mas enquanto a coisa não se concretiza, ela insiste em trepar. Ela diz que o ama - e Camille também."

oN tHE rOAD - jACK kEROUAC

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