9 de agosto de 2005


"Resistir é inútil". Se você é um fã de Star Trek, ouvir estas palavras imediatamente dispara um pensamento: o Borg. O Borg é o último pesadelo: a humanidade, escravizada por um computador. Com sorte, talvez isto seja apenas ficção. Ou não?


Em Star Trek, ele vem em um cubo. Uma nave espacial enorme, cheia de milhões de pessoas. Bem - elas não são exatamente 'pessoas'. Elas são o Borg. As pessoas no cubo não tem vontade nem mente próprias. Eles são Um. Conectadas ao mainframe chamado 'o Borg'. São cyber-escravos. Pobres criaturas.

Mas isto é ficção científica, certo? Não exatamente. Falando assim até parece que eles estão logo depois da esquina esperando pela chance ideal. Não virá em um cubo do espaço, mas do lugar onde você está exatamente agora: a Internet. E se vier, a resistência vai ser, realmente, inútil.

Os sinais são perturbadores. Façamos um pequeno experimento. Por favor, descubra o que é 'auparishtaka'.

Feito?

Ok, todos vocês leitores provavelmente seguiram a mesma rotina. Abriram o Google e digitaram 'auparishtaka'. Todos vocês descobrirão os mesmos resultados. Terão visitado os mesmos websites. Terão absorvido a mesma informação. Por um breve momento, todos foram Um.

Que exemplo idiota, você dirá.

Mas espera aí - isso foi só pra acordar você um pouquinho. O grosso da coisa ainda está por vir. Segure-se: o que você lerá agora pode mudar a forma como você vê seu simpático computador e a Internet para sempre. Pronto? Ok, vamos lá:

1 - Estamos sendo transformados em ciborgues


Viajemos um pouco no tempo. Vamos para uns 10 anos atrás no tempo. Os computadores acabaram de ter seus tamanhos reduzidos, e ficaram muito, muito mais rápidos. Ok, agora vamos um pouco adiante no tempo. Para sua surpresa, descobrirá que os computadores sumiram! Eles serão incorporados. Serão construídos em nossos lares, nossas máquinas domésticas, nossos carros e... nossos cérebros.

Sim: nossos cérebros. Já existem vários experimentos com simples implantes sendo inseridos nos cérebros de pessoas. A maioria deles por motivos de saúde e integridade: os implantes trazem de volta a audição (ou parte dela) ou a visão, ou curam você de terríveis condições como depressão ou fobias extremas.

Mas alguns implantes têm uma função mais 'luxuosa'. Eles se conectam ao seu cérebro para permitir que você movimente seu braço artificial, se tiver perdido o original. Ou eles permitem que você controle o cursor do mouse no seu computador pelo poder da mente, se você estiver paralisado.

A maioria dos entendidos no assunto concordam que isto é apenas o começo. Eventualmente, veremos mais e mais destes implantes 'de luxo'. Precisa aprender grego? Apenas vá a um cyber-médico plugar um pequeno chip no cérebro, bem parecido com um memory stick. Quer uma visão melhorada? O doutor atualizará o seu córtex visual para a versão Vision 2.2. E assim vai.

Claro, estas são coisas esperadas, excitantes e boas. Mas há o outro lado. O hardware não será a única coisa a entrar em nossos cérebros. Junto com ele, a Web entrará na sua mente.

2 - Estamos sendo assimilados


Não preciso lhe dizer que a Internet está crescendo. Em pequenos países high-tech como Cingapura e Holanda, a Internet já está em todos os lugares que você vai e pra todo lugar que você olha. Jogos, compras, encontros, emails, trabalho, ler teorias de fim do mundo - tudo é feito pela Internet.

E a Web ainda está progredindo. Não está apenas cada vez mais presente nos computadores residenciais. Está entrando em nossas TVs, conquistando nossos laptops e celulares. Está rastejando para dentro de nossos carros e casas. De fato, a Internet está para incorporar todo e qualquer dispositivo que associemos com 'comunicação'.

É como se o último 'dispositivo' fôssemos nós. Claro, os computadores implantados em nossos cérebros estarão conectados à Internet. As vantagens são grandes demais para não deixar isto acontecer. Teremos a Internet em nossos ouvidos, e Internet em nossos olhos - literalmente. Nossos cérebros estarão permanentemente online.

Então, você pensa em 'auparishtaka', instantaneamente fica sabendo que é apenas mais uma palavra pra... anh, isso. Você pensa na sua tia em Timbuktu, e sua tia pensa de volta em você, abrindo uma sessão de chat telepático, cérebro-a-cérebro. Você pensa no capitão da Enterprise, Jean-Luc Picard, e uma fotografia dele surge nos seus olhos. É enviado direto para seu córtex visual, onde é traduzido em 'imagens' por seu cérebro. Você pode ouvir a voz de Jean-Luc ou obter informações sobre o ator que interpretou a personagem, os filmes que já fez. Muito conveniente!

Isto é meio difícil de imaginar, não acha? Bem - é mais complicado do que isto. Com seu cérebro online, 'você' não será mais exclusivamente 'seu'. Você, de certa forma, será um cache local para a Internet. Seu cérebro se tornará uma memória de trabalho da Internet. E é aí que as coisas começam a ficar... um tanto bizarras.

3 - Estamos virando o Borg


Então, aí está você. Você tem um computador plugado no cérebro. Sua mente está online todo o tempo. Você é um ciborgue esperto, isto é o que você é.

Mas o que está online, é vulnerável. Alguém poderia hackear sua mente. Algum gênio malvado poderia colocar um vírus na sua mente, ou um spyware em seus pensamentos. Concordemos: isto seria um tanto confuso.

Provavelmente o maior perigo seriam os vírus que se auto-constroem. Existem experimentos com software que aprende, fica mais esperto - software que evolui constantemente melhorando a si mesmo. Com cada habitante do planeta online, tal vírus teria a sua disposição um enorme poder de cálculo e processamento.

É especulativo, mas talvez você possa chamar um vírus assim de 'vivo'. Talvez você possa dizer que ele tem vontade própria. E, talvez você possa chamá-lo de O Borg.

Então, imagina só: em um momento tá tudo certo - e então, de repente, você perde o controle. Começa a ter estranhas e incontroláveis alucinações. Você escuta uma voz interna dizendo que a resistência é inútil ou vivencia uma realidade que não existe. Ficará louco. Em casos extremos, você repentinamente descobrirá que seu corpo não está mais sob seu controle. Alguém - ou algo - controla você, como um marionete. Você se tornará um prisioneiro, trancado em seu próprio corpo.

O Borg pode ordená-lo para fazer todo tipo de coisa. Eliminar todos que ainda não foram assimilados. Contra sua vontade, o Borg fará com que você encontre todos que não têm um computador cerebral. Você será forçado a operá-los e torná-los ciborgues também. Então aí está: de repente você se descobre operando o cérebro de alguém - sem consentimento do paciente ou seu;

Talvez o Borg até lhe ordene que construa uma nave espacial em formato de cubo e saia por aí, em busca de mais formas de vida para assimilar. Para o Borg, mais escravos significam: mais poder de processamento.

Então: Ser Borg ou não ser?


Você pode dar de ombros. Sério, isso não pode ser tão ruim assim. Pessoas sendo assimiladas pela Internet... isso é estranho demais para ser verdade.

Bem - não é. Lembre-se que a Internet como mídia de massa tem apenas 10, 15 anos. Isto é menos que 0,001% do tempo que nossa espécie está neste planeta. E mesmo assim, a Internet e os computadores mudaram completamente nosso mundo. E podemos ter certeza de uma coisa: não vai parar aí.

Claro, a Internet como a conhecemos hoje não tem muito a ver com Borgs e naves espaciais em forma de cubo. A Web ainda é só um monte de bits e bytes, passivamente esperando em discos-rígidos ao redor do mundo.

Mas o software que aprende sozinho, mencionado antes, poderia mudar tudo isto. Digamos que há um software que evolui sozinho com o seguinte desígnio: "Encontre uma cura para o câncer". Na verdade, softwares como este já existem: é um software que automaticamente checa determinadas moléculas para verificar se seu formato se encaixa em alguma cura para o câncer.

Ok, então suponhamos que este software fica mais esperto. Ele poderia encontrar um novo e criativo jeito de fazer seu trabalho. Tipo: "Ei, vamos escravizar todos esses humanos idiotas. Vamos forçá-los a construir um cubo gigante e sair por aí no espaço para procurar a cura do câncer." Isto seria aterrador.

Mas, ainda há um ponto de esperança no qual podemos nos agarrar. Ninguém pode prever o futuro. O problema do Borg parece real. Mas tantos outros cenários também. Talvez sejamos capazes de erguer algum tipo de firewall avançado entre os computadores e a coisa que chamamos de mente. Ou talvez possamos ver o Borg chegando e damos um jeito de pará-lo.

E se não conseguirmos... Bem, temos que levar isto em consideração. Talvez sair por aí num cubo dizendo "a resistência é inútil" pra todo mundo que encontrarmos talvez vire uma tarefa divertida apesar de tudo. Conheceremos lugares jamais vistos do universo, assustaremos todos que encontrarmos, saberemos o que significa 'auparishtaka' e descobriremos uma cura para o câncer. Realmente, ser um Borg não pode ser tão ruim.