22 de outubro de 2003



PAIXÃO DE MORTE


Olá, meus amigos.
O poetinha transborda de felicidade
e deseja a todos, com humildade,
muita amizade, amor e vitalidade.

Hoje quero contar uma estória
que vai dar o que falar.
De tão incrível que ela é,
fica até difícil de acreditar.

Vi a morte ajoelhada chorando.
No seu semblante, um rictus de dor;
no seu peito, uma chama ardendo;
nos seus lábios, a palavra amor.

Curioso, indaguei-lhe qual era o tormento
que lhe infligia tanto sofrimento.
Ela respondeu-me, com sua voz sinistra,
que mais lembrava um lamento:

Estava amando e não era correspondida.
Perguntei-lhe o nome do seu amor.
E ela respondeu com a sua dor
que ele se chamava "vida".

Quase gritei ao ouvir tal coisa.
Era inacreditável!
A morte querendo ardentemente
que a vida fosse a sua noiva.

Compreendi num instante
como o sonho da morte era distante.
Pois, para com a vida se casar,
teria a morte que reencarnar.

Bastante constrangido, disse-lhe comovido:
"Morte! Raciocina menina.
Se fosse possível você reencarnar,
quem é que iria conseguir lhe matar?

Seja coerente e analise a situação.
Jamais poderá reencarnar,
pois você é a morte, não pode morrer,
somente matar.

Sem a sua ação
a própria vida não funcionaria,
a evolução não prosseguiria
e iria imperar a confusão.

Os encarnados iriam se dar mal
se você não existisse como instrumento
para transportá-los na hora fatal
em direção ao plano espiritual.

Você é o bisturi que a natureza usa
para transmutar essa humanidade confusa.
Não fique sentida por não poder realizar esse amor.
Lembre-se, que sem o seu trabalho, a própria natureza gemeria de dor."

Ia continuar o meu discurso, mas fui interrompido bruscamente,
pois ela se levantou e me disse desdenhosamente:
"Você é só um desencarnado, o que entende de evolução?
Como se atreve, com esses versos, querer me dar um sermão?

Se você já não estivesse morto
iria lhe matar agora mesmo.
Sou muito poderosa
e sei ser bastante impiedosa.

Quem ama não pensa,
como quer que eu raciocine?
Se és um poeta de consciência,
não abuse da minha paciência.

Para esquecer o meu sentimento
irei para os confins do universo
espalharei como vingança
o meu trabalho ao reverso.

Não vou matar mais ninguém.
Renuncio ao meu posto,
pois do meu amor pela vida
só tive desgosto."

A morte, então, alçou vôo
e cingiu o espaço.
Porém, um raio de luz
interceptou o seu passo.

À distância, em pleno espaço,
eu observava embevecido
a morte paralisada pelo feixe luminoso
emanado por algum ser bondoso.

Instantes depois,
a morte se curvava humilhada por aquela força superior
que inundava todo o seu ser
vasculhando o seu interior.

No meio de toda aquela luz que envolvia a morte,
uma materialização ocorreu e um ser luminoso apareceu.
Aquela criatura maravilhosa, que parecia não ter idade,
inundou o peito da morte com uma onda de fraternidade.

Diante de tanta bondade
a morte se acalmou
e aquele ser resplandecente
então lhe falou:

"Talvez os homens sejam ignorantes
e não mereçam compaixão.
Mas, algum dia,
eles ainda irão aprender bem a lição.

Quando esse dia chegar,
você poderá se aposentar,
pois o seu trabalho estará terminado
e um novo ciclo será iniciado.

Cicatrize a sua ferida emocional
e saiba que o amor real
não exige troca.
Apenas ama e é incondicional."

A morte, então, se despediu
e partiu de volta ao seu labor.
Sem querer, acabei pensando:
lá vai ela matar com muito amor.

Olhei para o espaço infinito e perguntei a mim mesmo:
O que seria do homem se não mais existisse a morte?
Seria tão enfadonho viver, viver e viver...
Que daria uma louca vontade de morrer.

E se também não existisse mais a reencarnação?
Seria tão enfadonho para nós desencarnados
viver, viver e viver...
Que daria uma louca vontade de renascer.

- Cia do Amor - (A Turma dos Poetas em Flor)

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