20 de agosto de 2003

O fogo

Da primeira civilização, salvaram-se as palavras. As palavras parecem pegadas de pássaros. Mãos mestras as desenharam na argila, com tubinhos afiados que faziam as vezes de lapiseiras.
Agora, milhares de livros de barros nos contam o que os sumérios contaram há mais de quatro mil anos.
"Tudo o que fazemos não é mais que vento", diz um desses livros: "Somos pó e nada".
E pó são, agora, os templos e os palácios daqueles antigos reinos da Suméria.
Mas as palavras ficaram. Não foram devoradas pela lepra do tempo. As antigas vozes sobreviveram graças ao fogo, que cozinhou a argila. O fogo as guardou. O fogo, que aniquila e salva; mata e dá vida: como os deuses, como nós.

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