7 de outubro de 2004


O Brasil na Grid




O desenho indica a localização do túnel subterrâneo onde está sendo construído o LHC. Com 27 km de extensão, o túnel se encontra cerca de 100 m abaixo da superfície, na fronteira da Suíça com a França


Um novo acelerador de partículas, o Large Hadron Collider (LHC), será inaugurado pelo Centro Europeu para Pesquisas Nucleares (Cern) em 2007 na Suíça. O objetivo do laboratório é descobrir o que é a matéria, do que ela é feita, qual a sua origem e como permanece unida formando objetos tão complexos como estrelas, planetas e seres humanos. Mas, para interpretar o imenso volume de dados que resultará das experiências feitas no LHC, será necessário o uso de uma tecnologia denominada Grid. A boa notícia é que o Brasil vai fazer parte desse projeto.

O LHC, um gigantesco túnel subterrâneo de 27 km de extensão, será capaz de provocar choques entre as partículas que compõem a matéria e desmembrá-las, tal como se encontravam logo após o Big Bang, a teoria mais aceita para a grande explosão que teria dado origem ao universo.

A cada segundo, ocorrerão 40 milhões de colisões e, ao longo de um ano, a previsão de dados coletados será de 20 petabytes (1 petabyte = 1015 bytes). Uma das soluções propostas pelos físicos do Cern para manipular e processar tamanha quantidade de informações é criar uma avançada forma de comunicação e compartilhamento de dados, baseada na tecnologia Grid. A vantagem dessa opção é que ela permite a descentralização dos dados entre diversos países.

O Projeto de HEPGrid do Cern deverá contar com a colaboração internacional envolvida nos projetos do LHC: 56 participantes, entre países e organizações internacionais. Estados Unidos, França, Inglaterra, Alemanha e Itália já estão com projeto em andamento para armazenar parte das informações.



O novo acelerador de partículas (LHC) em construção no túnel subterrâneo (fotos: divulgação/Cern)


No Brasil está sendo articulado o grupo HEPGrid Brasil (High Energy Physics Grid), formado pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), pela Universidade de São Paulo (USP), pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp), pelas universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), da Bahia (UFBA) e do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), sob a supervisão do físico Alberto Santoro.

"Apesar de ainda não haver qualquer termo oficial assinado, o Brasil esteve na vanguarda do projeto de Grid para a física de altas energias desde o início. Discutimos com nossos colegas no exterior, fizemos propostas agressivas para trazer e atrair para o país maior atenção e contribuição da comunidade. Tivemos sucesso em todas as nossas propostas e temos tido apoio internacional", diz Santoro.

Segundo o físico, a finalidade da participação brasileira no Cern é a curiosidade científica, mas ele considera alta a probabilidade de que inúmeros resultados possam ser obtidos pelo país, como resultado desse esforço. "A realização do nosso trabalho implica a invenção de diversas soluções tecnológicas que poderão favorecer a fabricação nacional de produtos que atualmente importamos. Acho muito importante perceber o projeto sob essa perspectiva, pois, dessa forma, podemos encarar seu financiamento não como gasto, mas como investimento", ressalta.

Embora o governo ainda não tenha liberado todo o orçamento necessário, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) já está investindo na construção de um novo laboratório na Uerj que favorecerá a implantação de um avançado banco de dados para tornar a universidade apta a participar do HEPGrid Brasil.

"Também será necessário promover melhorias na infra-estrutura de rede da Uerj para que o banco de dados disponível seja acessado com facilidade. Nesse sentido, uma importante contribuição foi o Projeto Giga, da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que proporcionou uma rede de alta tecnologia entre as principais instituições de ensino e pesquisa do Rio de Janeiro e São Paulo, incluindo a Uerj", observa Santoro. "O Projeto Giga vai permitir a colaboração rápida e eficaz entre os colegas dos dois estados."

Fonte: Ciencia Hoje on-line

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