12 de julho de 2004


RIO OU MAR VERMELHO?

Um jovem deixou o casebre com certo receio, nunca sabia se não estava sendo seguido. Tem apenas 17 anos e carrega um fuzil potente nos braços, no bolso esconde uma touca, munição em quantidade e um pouco de dinheiro. Na cintura, uma faca e uma bolsa amarrada.

Vai se esgueirando por entre as ruas estreitas, sobe uma ladeira e pára um pouco pra descansar, olha para o horizonte e o que vê é só pobreza e destruição, uma paisagem que chama a atenção não pela beleza, mas pelo terror que passa. Resolve sentar numa pedra e esperar um pouco.

Desde criança, ele sempre sonhou em se tornar um soldado, usar uma farda, ter uma arma, lutar bravamente contra os inimigos, como fez o seu pai quando foi morto. Mas os tempos acabaram mudando e ele teve que ver sua família ser completamente arruinada pela violência humana, deixando-o órfão com 15 anos e sozinho aos 17, porque seu irmão havia sido assassinado há quase um mês. Na verdade, tinha raiva de pessoas, o único amigo fiel era seu fuzil, o qual tratava com cuidado desde quando ganhou, sentia-se perdido no meio das outras pessoas, parecia que já tinha nascido órfão.

Resolveu levantar e deixar a pedra pra trás, afinal ainda tinha uma missão a cumprir. Atravessou a rua do mercado público e se misturou com o restante da multidão. Quando achou que tivesse se perdido, encontrou o local que deveria chegar: um outro casebre, muito menor que o outro e sem pintura, não tinha espaço sequer para um banheiro. Com o mesmo receio de sempre, ele se aproximou, olhou em volta, parou um tempo imóvel e resolveu entrar.

Dentro da casa, haviam mais 5 jovens com as mesmas características e um ancião que parecia estar passando instruções de combate. Quando ele entrou, foi logo revistado e então foi retomada a consersa. Depois de alguns minutos, todos saíram em duplas, com intervalhos de 20 minutos entre uma dupla e outra.

Agora ele estava nervoso e sua dupla aparentava pavor no jeito de caminhar e falar. Já nem verificavam mais se estavam sendo seguidos.

Sem dizer nenhuma palavra, os dois subiram no primeiro ônibus que passou, desceram perto do hospital e entraram no metrô. Dentro do vagão, olhavam as pessoas, mulheres, crianças, idosos, deficientes, bandidos, devia existir de tudo, todos os tipos possíveis.

Mas a missão deveria ser cumprida e enquanto seu companheiro jogava uma carta enrolada numa pedra pela janela, ele recitava o alcorão. Quando as pessoas perceberam o que se passava, entraram em pânico e tentaram correr.

Não havia mais tempo. Os explosivos dentro das duas mochilas eram muito poderosos e ninguém se salvou.

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