12 de dezembro de 2005



Nasceu em Leipzig em 22 de maio de 1813; morreu em Veneza em 13 de fevereiro de 1883.


Ele tinha o dom de dar o que falar. Era um homem menor do que o normal, doentio, com a cabeça grande demais para o corpo. Tinha nervos ruins; era agonia para ele usar junto da pele qualquer coisa mais áspera do que a seda. E suas ilusões de grandeza tornavam-no um monstro de presunção.

Julgava-se um dos maiores dramaturgos do mundo, um dos maiores pensadores e um dos maiores compositores - Shakespeare, Beethoven e Platão em uma pessoa só. Era um dos conversadores mais exaustivos que já viveram. Um serão com ele era um serão passado ouvindo um monólogo . Algumas vezes era brilhante, outras horrendamente enfadonho. Tinha sempre um único assunto de conversa: ele mesmo.

Escrevia óperas. E apenas tinha uma história, convidava - ou, antes, convocava - uma multidão de amigos a sua casa e a lia alto para eles. Não para ouvir críticas e sim aplausos. E sentava-se ao piano diante de grupos de que faziam parte alguns dos melhores pianistas do seu tempo e tocava para eles durante horas... a sua própria música.

Era quase inteiramente destituído de senso de responsabilidade. Nunca lhe ocorreu que tinha qualquer obrigação de se manter. Estava convencido de que o mundo lhe devia o sustento. Tomava dinheiro emprestado de todo o mundo: homens, mulheres, amigos e estranhos. Não encontrei registro algum de que ele alguma vez pagasse a alguém que não tivesse documento legal que obrigasse ao pagamento. Escrevia cartas suplicantes às dezenas, algumas vezes oferecendo ao seu benfeitor o privilégio de contribuir para o seu sustento e mostrando-se mortalmente ofendido se o destinatário declinava da honra.

Era igualmente inescrupuloso em outros sentidos. Passou através de sua vida uma interminável procissão de mulheres. Sua primeira mulher levou 20 anos perdoando-lhe infidelidades. A segunda era esposa de seu mais dedicado amigo, do qual a roubou. E já enquanto estava tentando persuadi-la a deixar o marido escrevia a um amigo perguntando-lhe se podia sugerir-lhe alguma mulher rica - qualquer mulher rica - com quem ele pudesse casar pelo dinheiro.

O nome desse monstro era Richard Wagner. Tudo o que eu disse a respeito dele se encontra documentado - em jornais, nos arquivos da polícia, no testemunho de pessoas que o conheceram, em suas cartas. E o curioso de tudo isto é que não tem a mínima importância. Porque esse homenzinho doentio, desagradável e fascinante esteve certo durante todo o tempo. Ele era realmente um dos mais estupendos gênios musicais que o mundo já viu. O mundo devia-lhe realmente a manutenção.

Ouvindo sua música, nós não o perdoamos pelo que ele possa ter sido. Não se trata de perdão. É uma questão de se ficar mudo de espanto pelo fato de seu pobre cérebro e seu pobre corpo não estourarem sob o tormento do demônio, da energia criadora que vivia dentro dele, lutando, esbracejando, arranhando para se libertar. O milagre é que o que ele fez no pequeno espaço de 70 anos possa ter sido feito, mesmo por um grande gênio. É de admirar que ele não tivesse tempo para ser homem?

Condensado de "The Reader's Digest", abril de 1937. "A Musical Monster". De Deens Taylor. Copyright, 1937, de The Reader's Digest Assn., Inc.

Nenhum comentário: