Sai-te!
Da avalancha de expressões inglesas que deformam a língua portuguesa, uma, em particular, é humilhante: site. Popularizou-se entre os usuários da Internet, e também na imprensa, evidentemente, que tudo transcreve como um copista autista. Site quer dizer sítio. Tanto em inglês como em português, a palavra tem o mesmo significado (lugar que um objeto ocupa, segundo o Aurélio e o Webster), porque provém da mesma matriz, o latim situs. Ou seja, a palavra portuguesa sítio tem origem e acepção idênticas aos da palavra inglesa site, mas, no Brasil, agora dizemos site no lugar de sítio.
A opção brasileira por site (portugueses e castelhanos usam sítio), justifica-se pelo fato de a palavra ter, também, o significado de chácara. Ocorre que esta acepção rural é um brasileirismo, isto é, foi dada apenas aqui, como sinal de engenho no manejo do vocabulário. Não existe em Portugal. Na língua portuguesa falada no Brasil, sítio tem, portanto, as duas acepções - de lugar e de chácara -, além de outras registradas pelos dicionários.
Tudo seria tolerável se o tijolo de som estranho à grafia não fosse considerado, oficialmente, uma palavra da língua portuguesa. Foi incluída no Vocabulário Ortográfico, preparado pela Academia Brasileira de Letras, nesses termos: "site (saite) s.m. ing.". Cresce tanto a degradação do idioma, praticada pelos que deveriam defendê-lo, que não só importamos palavras para substituir as aqui existentes, como deformamos a prosódia clássica do português ao dar ao i o som inglesado de ai. No mínimo, ainda que desnecessária, a palavra deveria ter sido aportuguesada pela Academia. Segundo a regra histórica, defendida pelos grandes cultores do idioma, do português Gonçalves Viana ao brasileiro Napoleão Mendes de Almeida, a grafia deve corresponder à pronúncia. Por isso, em português, existe náilon, não nylon, e dizemos álibi e não alabai.
Fonte: Instituto Gutenberg - Centro de Estudos da Imprensa
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