12 de fevereiro de 2004

ANDARILHOS NA TEMPESTADE

No fim do dia, estava exausto. Tinha andado um bom pedaço, mas ainda faltava muito, teria pelo menos mais dois dias de caminhada pela frente até chegar ao vilarejo mais próximo e encontrar sua noiva. Trazia consigo uma pequena mochila em forma de saco, onde colocava seus pertences e uma faca artesanal para o caso de ser atacado durante a viagem por um desses andarilhos que vivem vagando pelas estradas do condado.
Olhou em volta, chutou alguns gravetos para longe e decidiu se instalar ali mesmo onde estava. Parecia bem protegido, sem muito vento, um pouco escondido dos ladrões e ainda tinha uma boa árvore para se encostar. Puxou uma pedra que estava perto da estrada e sentou, abriu a mochila, tirou um pedaço grande de pão e separou um naco para comer. Enquanto comia, pensava na arquitetura do lugar onde iria montar pouso até o dia seguinte. Percebeu que havia um riacho ali perto, levantou e andou alguns passos até encontrar o estreito córrego que quase não existia vista a pouca quantidade d'agua que corria. Tomou um gole, lavou as mãos e voltou para o acampamento.
Era difícil acender uma fogueira durante a noite, então começou a recolher lenha antes que a escuridão chegasse. Olhou em volta e avistou os gravetos que ele mesmo tinha chutado, precisaria de apenas alguns mais grossos. Com a lenha recolhida e amontoada, começou a acender o fogo usando pólvora, duas pedras e folhas secas.
A noite chegou e apenas o clarão do fogo iluminava o mato. Precisou arrancar alguns arbustos que obstríam o lugar onde ele faria sua cama, perto da árvore, estendeu um pano grosso no chão e um cobertor para se proteger do frio da madrugada. Sem perceber, adormeceu na hora em que se apoiou na árvore.
Antes do primeiro raio de sol aparecer, ele notou que algo se mexia e fazia barulho ali perto. Abriu um olho, depois o outro e viu dois cervos pastando a alguns metros dali, sem pressa nem medo do monte enrolado no cobertor que até então não havia expressado nenhuma ação. Durante alguns segundos, ele ficou ali quieto, olhando os inocentes animais fazer sua refeição matutina.
De repente um estampido. O cervo dá um berro e prostra no chão. O sangue começa a minar e o outro animal, já distante, olha prá tráz para dar adeus ao seu amigo e leva um tiro na cabeça sem ter tempo de escapar.
O caçador se aproximou e avistou alguém encolhido embaixo da árvore que se levantava procurando o autor dos disparos.
Carregou a espingarda e atirou certeiramente na cabeça do homem. Ao sair, ainda comentou consigo mesmo:
- Esses andarilhos! Se eu não sou rápido ele me pegava!

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