"Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam
criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra.
Hermeuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.
- Os hermeutas estão chegando! "
"[..]Plúmbeo devia ser o barulho que um corpo faz ao cair na água.
Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:
-Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. mas algumas... Ah, algumas defenestravam."
"[..] Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em:
- Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata.
Um dia, finalmente procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. "Defenestração" vem do francês "defenestration".
Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela. Ato de atirar alguém ou algo pela janela! "
(Trecho Retirado da Crônica Defenestração de Luís Fernando Veríssimo - Comédias para se ler na escola)
Defenestrar deveria ser uma prática cotidiana, não acham? Para aqueles dias em que uma cara amarrada e um suspiro não resolvem o problema.
Sapatos, panelas (seriam as minhas preferidas), copos, pratos, roupas. Tudo, tudo para fora.
Uma bela tarde de sol e uma chuva de talheres, talvez fosse mesmo perigoso para quem estivesse embaixo, mas daí nos protegeríamos com sombrinhas da época gregoriana (se é que elas existem).
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