8 de setembro de 2003

Genialidade, Rivalidade e boa música

"Em 1966, quando Revolver havia sido lançado e sons nunca ouvidos invadiram ocidente, uma batalha atlântica se desenrolava. Era a disputa entre Beatles e Beach Boys pela criação do "álbum genial do rock". Os resultados dessa briga até hoje são insuperáveis. Enquanto a mídia propagava rivalidades entre Beatles e Stones, Lennon e McCartney sabiam que o desafio não estava em Manchester, mas na Califórnia. Seus únicos competidores eram os Beach Boys. Como os Beatles, passaram de um som ingênuo para complexos arranjos e letras sérias. O combate era desigual. De um lado estavam os Beatles, ajudados por George Martin. Do outro lado havia Brian Wilson. Surdo de um ouvido, baixista e pianista. Assim como Beethoven, foi criado pelo pai para ser um gênio. Murry Wilson notou que seu filho tinha talento para a música.

Ao ouvir o "Rubber Soul", dos Beatles em 1965, Brian concentrou seus esforços na criação de um álbum homogêneo, sem sucessos fáceis mas com uma complexidade musical fora de qualquer padrão anterior. Meses depois nascia o "Pet Sounds", considerado pelo londrino "New Music Express" o melhor álbum do rock.

Em entrevista ao "Melody Maker" ele prometeu: "Nosso próximo álbum sera melhor que o ´Pet Sounds´".

Mas coisas não estavam boas. O relativo fracasso de "Pet Sounds" preocupava os executivos da Capitol e os outros Beach Boys. Havia um medo generalizado no ar de que o novo disco, intitulado "Dumb Angel", fosse um fracasso comercial. As exigências do pai, da gravadora, dos outros integrantes da banda, somado ao uso de drogas e uma personalidade extremamente sensível foram se acumulando durante as seções de gravação.
Reintitulado "Smile", o álbum consumiu meses de trabalho. Vocais, instrumentos, regência de orquestra, arranjos para cordas, metais, madeiras e todo tipo de som. Determinado a encontrar os exatos sons para cada trecho e criar paisagens sonoras jamais vistas, Brian exigia tudo de si e de seus músicos nas seções de gravação. O projeto foi cercado de mistério e desconfianças.

Em 1967 ele estava esgotado pelo trabalho e pela composição, sem contar os litígios com a gravadora, problemas pessoais e familiares. Brian Wilson anunciou que "Smile" não seria lançado. Pouco tempo depois, os Beatles venciam a guerra com sob o comando do Sargento Pimenta. O "álbum genial do rock" já estava com o público. Brian tornou-se praticamente um recluso e a carreira dos Beach Boys desceu morro abaixo. "Smile" só existe na forma de botleg. Há várias caixas de "Smile Sessions" e cerca de 40 minutos de material na caixa oficial "30 years of Good Vibrations". E, na internet, vale a pena garimpar alguns mp3.

Algumas faixas do material abandonado foram lançadas em outros discos. Os fragmentos deixam entrever um álbum excepcional. Brian chamava-o de "uma sinfonia adolescente para Deus". "Smile" está mais próximo do clássico que do pop. Temas musicais atravessam todo o disco, a orquestração agrupa timbres e formações instrumentais para criar sons novos, próximos da mente de Brian mas distantes do mundo exterior. "Smile" continua sendo um dos mistérios da história da música. E, como todo mistério, tem muito mais charme quanto mais sabemos que se trata de um curioso quebra-cabeças no qual várias peças não fazem sentido e outras não existem - exceto, talvez, nas idéias de Brian Wilson. "


Fonte: Revista Zero

Quem nunca ouviu Beach Boys experimente ouvir Let The Wind Blow do álbum Smile, você vai se surpreender.

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