aviso da lua que menstrua
Moço, cuidado com ela! Há que se ter cautela com esta gente que menstrua... Imagine uma cachoeira às avessas: cada ato que faz, o corpo confessa. Cuidado, moço às vezes parece erva, parece hera cuidado com essa gente que gera essa gente que se metamorfoseia metade legível, metade sereia. Barriga cresce, explode humanidades e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar mas é outro lugar, aí é que está: cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita.. Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente que vai cair no mesmo planeta panela. Cuidado com cada letra que manda pra ela! Tá acostumada a viver por dentro, transforma fato em elemento a tudo refoga, ferve, frita ainda sangra tudo no próximo mês. Cuidado moço, quando cê pensa que escapou é que chegou a sua vez! Porque sou muito sua amiga é que tô falando na "vera" conheço cada uma, além de ser uma delas. Você que saiu da fresta dela delicada força quando voltar a ela. Não vá sem ser convidado ou sem os devidos cortejos.. Às vezes pela ponte de um beijo já se alcança a "cidade secreta" a Atlântida perdida. Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela. Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas cai na condição de ser displicente diante da própria serpente Ela é uma cobra de avental Não despreze a meditação doméstica É da poeira do cotidiano que a mulher extrai filosofando cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso julgando a arte do almoço: Eca!... Você que não sabe onde está sua cueca? Ah, meu cão desejado tão preocupado em rosnar, ladrar e latir então esquece de morder devagar esquece de saber curtir, dividir. E aí quando quer agredir chama de vaca e galinha. São duas dignas vizinhas do mundo daqui! O que você tem pra falar de vaca? O que você tem eu vou dizer e não se queixe: VACA é sua mãe. De leite. Vaca e galinha... ora, não ofende. Enaltece, elogia: comparando rainha com rainha óvulo, ovo e leite pensando que está agredindo que tá falando palavrão imundo. Tá, não, homem. Tá citando o princípio do mundo! | Mulata de olhos verdes, Elisa Lucinda nasceu em Vitória, no Espírito Santo, em 1948, onde se formou em jornalismo e chegou a exercer a profissão. Em 1986, mudou-se para o Rio disposta a seguir a carreira de atriz.Trabalhou em algumas peças, como "Rosa, um Musical Brasileiro", sob direção de Domingos de Oliveira, e "Bukowski, Bicho Solto no Mundo", sob direção de Ticiana Studart. Integrou, ainda, o elenco do filme "A Causa Secreta", de Sérgio Bianchi."O Semelhante", onde a poeta se apresenta declamando seus versos e conversando com a platéia, estreou no Rio e teve temporadas de sucesso em várias capitais. Atualmente, se apresenta na casa de shows "Mistura Fina", no Rio de Janeiro, com "EUTEAMO Semelhante". Publicou, entre outros, os livros "A Menina Transparente", "Euteamo e suas estréias" e "O Semelhante". Há quem critique a temática por demais cotidiana da poesia de Elisa. "A grandeza de um céu estrelado está presente no cotidiano das pessoas; minha poesia fala do cotidiano, sim, pois para mim os sentimentos mais profundos, alegres ou tristes, podem ser traduzidos de forma cotidiana e simples", rebate. |
15 de janeiro de 2004
Um poema muito bacana de Elisa Lucinda, depois da 'viagem ao ginecologista' é a vez da 'lua menstruada'
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