A FALTA QUE ELE ME FAZ
Estudo relata distúrbios causados pela redução ou interrupção do consumo de cafeína
O café costuma despertar opiniões controversas e cientistas ainda não chegaram a um resultado conclusivo para definir se, afinal de contas, ele faz bem ou mal à saúde. Mas uma revisão bibliográfica sobre os efeitos da abstinência de cafeína - que também é encontrada em chás, chocolates, refrigerantes e alguns medicamentos - indica que o ideal é tratá-la como droga quando se avalia tanto seu consumo quanto os transtornos que pode causar a quem decide parar de consumi-la.
O ensaio crítico foi publicado em setembro no site da revista Psychopharmachology. Um dos autores, Roland Griffiths, do Departamento de Neurociência da Johns Hopkins University School of Medicine, nos EUA, afirma que a cafeína é uma droga relativamente benigna, mas destaca que médicos costumam recomendar a diminuição e até mesmo a interrupção de seu consumo, principalmente para pessoas que sofrem de ansiedade, insônia, pânico, doenças cardíacas, problemas estomacais e para mulheres grávidas.
Mas cortar a cafeína pode trazer também alguns transtornos igualmente desagradáveis aos causados pelo seu consumo contínuo. Entre os mais relatados pela literatura médica estudada para o ensaio, estão dores de cabeça, fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade e depressão. Esses sintomas configuram a síndrome de abstinência de cafeína, cujo diagnóstico já é reconhecido como oficial pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Estudos mostraram que, para consumidores diários de cafeína, a abstinência de 24 horas já é suficiente para que se registre a incidência de dores de cabeça em 50% dos casos. Além disso, os sintomas são relatados em muitos casos em que o consumo de cafeína é reduzido a menos de 100 mg/dia. O autor afirma que muitos consumidores não têm consciência de sua dependência da substância, já que dificilmente interrompem o consumo por mais de dois dias.
Embora a cafeína não ofereça à saúde os mesmos riscos que outras drogas que provocam dependência, como heroína, cocaína e nicotina, muitos usuários não interrompem o consumo por medo de experimentar os desconfortos causados pela síndrome de abstinência.
Mesmo depois de ter encontrado sérias restrições ao consumo de cafeína e relatos de síndrome de abstinência grave, Griffiths é cauteloso ao falar do assunto. "Não vejo razões para que pessoas sem contra-indicações à cafeína parem de consumi-la", afirma em entrevista à Ciência Hoje On-Line, "A cafeína deve ser encarada como droga e a decisão de cortá-la ou diminuí-la na alimentação deve se basear em informações sobre os males que a substância pode lhes causar. Assim, decidem que quantidade de cafeína querem consumir no dia-a-dia."
Fonte:
Aline Gatto Boueri
Ciência Hoje On-line
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